DESABAFO: Calei-me quando deveria ter...
Aquele
momento em que você “pega o ônibus, sempre lotado, fora de hora, quase vazio,
como de costume, diz bom dia ao motorista que responde com um aceno de cabeça e
um meio sorriso, demora-se na catraca tentando encontrar o cartão em meio aos livros e trabalhos levados para casa. Enfim
retribui o sorriso do cobrador, velho conhecido.
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Bom dia professora!
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Bom dia!
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Sempre na correria... este ano tenho te visto pouco... gostaria de ver mais
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Horários desencontrados, estou sempre indo e vindo
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Ano passado no verão eu via mais... gostaria de VER MAIS!
A
ênfase nas palavras VER MAIS, acompanhadas do olhar preso aos meus seios (Hoje Estou
de camiseta, as vezes uso blusinhas com degotes recatados) me fez encarar o “velho
conhecido” que mantinha a catraca travada, e corria os olhos do meu rosto para
o colo, com um sorriso que me fez corar, não de vergonha, de indignação e uma
ponta de raiva.
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Ano passado você trabalhava em 3 escolas... lembro quando pegava o ônibus a
tarde... naquele calorzão... A GENTE VIA
MAIS!
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A gente via mais!?
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Queria ser seu aluno... pra ser corrigido... de perto... e te VER MAIS
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Eu já passei o cartão pode destravar a catraca?
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Não esta com calor professora com essa camiseta tão fechada... com todo
respeito o que é bonito é pra ser mostrado!
Ímpeto
de mandar ele enfiar o “respeito” onde vocês que me leem imaginaram. Mas ele
sorria por certo esperando que eu me sentisse lisonjeada, homem de meia idade,
moreno, cabelos grisalhos, bonito eu diria... não fosse aquele sorriso no olhar
que me violentava. Ele destravou a Catraca e fez um gesto para que eu passasse
levou os dedos aos lábios como que a secar a baba... Emudeci, dei-lhe as costas, sentei-me no
ultimo banco onde meu corpo estivesse a salvo daquele olhar de cobiça.
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